Estou de passagem neste mundo,

Mas deixo aqui o registro de minhas palavras.

Eu sou o peregrino do tempo.


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Invictus

(William Ernest Henley)

Dentro da noite que me rodeia
Negra como um poço de lado a lado
Eu agradeço aos deuses que existem
Por minha alma indomável

Nas garras cruéis da circunstância
Eu não tremo ou me desespero
Sob os duros golpes da sorte
Minha cabaça sangra, mas não se curva

Além deste lugar de raiva e choro
Paira somente o horror da sombra
E ainda assim a ameaça do tempo
Vai me encontrar, e deve me achar, destemido

Não importa se o portão é estreito
Não importa o tamanho do castigo
Eu sou dono do meu destino
Eu sou capitão de minha alma

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


Aqueles que habitam o Paralelo Noturno
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XII - Procurando pelo Clube dos Imortais

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A casa do vampiro é cheia de segredos. Tudo pode ser explorado, pouco será conferido. Fernando começou pelo sótão. As tralhas, os quadros, os baús, as teias, as poeiras, nada lhe contaram. Caminhou na longa perspectiva do corredor e cada porta lhe pediu um dia. Fernando teve tempo de sobra e, ao longo de uma semana, todo o andar superior foi percorrido.

Salas, cozinha e biblioteca lhe bastaram metade de uma noite, queria gastar a outra em novas descobertas literalmente mais profundas. Fernando parecia especialmente ansioso e, a cada traço de novidade, um ar de nostalgia lhe era soprado.

Retornou à cozinha; ali havia uma porta que Fernando deixou para abri-la somente depois que todo o piso térreo fosse investigado. Deixou aquela porta para depois porque algo lhe dizia que ela o levaria ao porão; e as profundezas da mansão lhe prometiam visões mais pitorescas que as sombras errantes de uma casa antiga.

Ao abrir a porta, três degraus lhe guiaram à adega incrivelmente bem provida, mas ao mesmo tempo apertada e opressora. Um ensaio de labirinto. No entanto ainda restava a Fernando supor que não estava nas fundações. Não via os arcos, embora pudesse divisar claramente espessas paredes de tijolos úmidos que sustentavam o edifício. Ainda estava insatisfeito, fausto lhe falara que o Clube dos Imortais se localizava nos subterrâneos da mansão.

Fernando não pretendia esperar a reunião dos membros do moto clube para poder contemplar o local. Seu olfato estava apuradíssimo. A iluminação oriunda da vela que carregava era rara e pouco contribuía, porém não atrapalhava sua visão noturna, muito embora fosse a intuição sua verdadeira força condutora.

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[Continua...]
LEÃO NEGRO
A busca pelo vampiro Luar
Um romance de KIZZY YSATIS

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Aqueles que habitam o Paralelo Noturno

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XI - Lobisomens; unam-se para a batalha!

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As motocicletas, nada convencionais, alinhadas na frente do bar descrevem seus visitantes. Homens de colete preto ostentam orgulhosamente os símbolos de seus respectivos moto clubes.

A espelunca fedia a couro, suor e cerveja. O volume altíssimo gritava “Born to be wild” pela centésima vez nas caixas de som sem que isso incomodasse seus frequentadores; muito pelo contrário, para os motociclistas esta música é um hino venerado.

O velho Pimentel, presidente do Fúria, abria mais uma garrafa; um membro dos Abutres saia e um do Zapata chegava.

Na mesa imediatamente vizinha da caixa de som, três membros do Leão Negro moto clube conversavam sem que o barulho lhes ofendesse a audição; na verdade era um aliado que abafava o conteúdo da conversa:

— Daniel, tô feliz pra caramba em ver que você está bem — disse Juliano.

— Eu também — acrescentou Leonardo.

— Obrigado. Eu também estou feliz em rever vocês dois.

Daniel fora sincero, muito embora a melancolia na voz e na expressão fosse indisfarçável; lembrava aqueles que não tiveram a mesma sorte.

Leonardo prosseguiu o bate-papo:

— Que chato o que aconteceu com o Billy.

Parecendo ofendido, Daniel soou orgulhoso:

— Ele caiu lutando.

Sem falar nada, bateram os copos em respeito.

— Não consegui salvá-lo.

— Para com isso, Daniel. Você salvou Ernesto.

— Ajudei, mas os vampiros estavam em maior número.

— Quantos?

— Dois pra cada.

Leonardo estava curioso:

— Eram de primeira ou segunda classe?

— Segunda.

Sem intenção, Juliano pareceu debochar:

— Não são muitos.

Daniel matou o que tinha no copo e se serviu de mais enquanto achava as palavras certas:

— Nos pegaram de surpresa.

Leonardo se indignou:

— Covardes!

— Eu não teria conseguido dar conta sem o Barbosa.

— Não fala isso, Dani. Você é um dos fortões.

— Mas é a mais pura verdade; o Bar salvou minha bunda.

— Ah, o Bar é foda! Ele e aquela machadinha cheroqui.

Daniel concordou:

— Verdade. Ele nunca erra. Mesmo assim estávamos cercados. Nossa sorte foi o Roberto ter chegado.

— Vixe! Coitado dos vampirinhos.

— O Roberto é sem-noção.

Daniel finalmente sorriu:

— Há! Vocês precisavam ter visto, ele expulsou eles no berro. Chegou tocando o foda-se. Até eu me assusto com o berro dele.

— Fala sério, qualquer um. Até o Luar se assusta com o berro dele.

— Pode crer, lembra lá no Araçá? Quando o Roberto uivou, Luar não pensou duas vezes, pegou o moleque dele e saiu voando pelas campas.

Gargalhando, os três brindaram de novo, agora para o Roberto. Aproveitando o ensejo, Leo perguntou:

— Então, quando será a festa?

— Talvez neste fim de semana.

— Quantos de nós vão vir?

— Todos.

— Caramba, a coisa tá ficando mais séria que eu pensava, não nos reunimos assim desde 2003, naquele lance em Santa Catarina, no quintal das sibilas, lembra?.

— Isso mesmo. Fausto falou que essa pode ser nossa última briga com os caras do Montserrat. Juntos teremos mais chances.

— Se é que temos.

— Só saberemos quando chegarmos à mansão, mas aposto meu canino que o chefe tem um plano.

Juliano quase gaguejou:

— Quantos membros já perdemos... no total?

— Quase vinte.

— Caraca! Que baixa feia.

— O pior é que fomos pegos aos poucos, sozinhos, sorrateiramente.

— De predadores passamos a presa.

— Fausto disse que veremos a iniciação de um novo membro.

— Como se chama?

— Fernando.

— É dos fortes?

— Não faço idéia.

Leonardo e Juliano ficaram ansiosos:

— Então vamos descobrir. Vamos pra mansão.

— O pessoal já chegou? — Leo perguntou preocupado.

Daniel tranquilizou:

— Estão vindo. Nos encontraremos lá.

Juliano tinha pressa agora:

— Bora daqui?

— Vão na frente, vou esperar o grandão.

— Legal! O Roberto tá vindo sozinho!

— Ele sempre vem. Aquele porra não conhece o medo. Embora Fausto tenha mandado a gente andar em grupos; e de preferência acompanhados de um dos fortes.

Leonardo confirmou:

— Tô sabendo, o Andréas tá seguindo a gente.

E Juliano deu detalhes:

— Farejamos ele, mas sabe como é, o Andréas não se mistura com os “moleques”.

— Ok. A gente se vê no clube. Mas cuidado. Se farejarem perigo, uivem alto.

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[Continua na terça]
LEÃO NEGRO
A busca pelo vampiro Luar
Um romance de KIZZY YSATIS

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011



COISAS E PESSOAS



Existem frutos que se renovam, rios perenes, outros não; existe amor e controvérsia. A cada nova experiência ganhamos ou perdemos alguma coisa. Desta vez, recuperei a autoestima há muito esquecida. Sou grato por isso. Descobri que o preço da liberdade é a solidão. Sigo à risca o provérbio “Antes só do que mal acompanhado”. Sou um explorador da vida; incansável aventureiro. Os sabores mais exóticos me apetecem. Não tenho medo, mas se vejo que algo começa a me fazer mal, ou mais mal do que bem, eu largo. Abandono sua prática ou consumo. Deve-se agir assim com tudo que há no mundo, com as coisas e as pessoas. Especialmente com as pessoas.


Quantas já não estiveram comigo e foram promessas de boas companhias mas que tão logo o baile terminou, as máscaras ruíram?


O que resta então é só o que nos resta. Vemos se serve ou não, se é realmente adequado ou desprezível. É quando a fantasia se esvai, e temos de ser realistas (aqui leia-se frios, durões). Descobrimos que o que não estiver conosco está contra, e deve ser descartado assim como embalagem de sorvete. Existem coisas deliciosas cujo consumo demasiado nos leva à queda. Tô ligado. Você também. Como já disse, assim são as pessoas. Mas o lado bom é que fica a indomável lembrança daquele gosto estonteante, e a promessa de que novos sabores virão.


Aliás, estou com um novinho aqui ;)

Por problemas técnicos, diga-se (o PC deu pau) não consegui "colar" o capítulo.
Verei se mais tarde consigo.
Lamento.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011


Aqueles que habitam o Paralelo Noturno


X - Marta recebe uma segunda visita.

Um Claudio meio frustrado deixa o edifício e desce a avenida pedalando.

Na cozinha de seu apartamento, Marta seca a louça e então para, uma brisa a surpreende. Ela fecha os olhos e inspira vagarosamente. Marta havia se acostumado com o perfume da orquídea, que precede a presença mágica e invisível de uma antepassada sua em especial. O perfume mistura-se ao cheiro de cigarro e livros velhos.

Que dia, pensou. As coisas estavam acontecendo tão rápido. Era a segunda visita que recebia naquele dia. Mais que depressa, abandonou os afazeres triviais, enxugou a mão e virou-se. Estava só. Olhou ao redor e começou a caminhar devagar e sem medo, apenas curiosa. Concentrou-se para ouvir alguma voz, procurou por algum sinal. Nada. Uma mariposa entrou pela vidraça tão veloz que a pegou de surpresa. Um pequeno susto. O inseto noturno rodopiou três vezes antes de se dirigir a sala. Ela o acompanhou. Olhou direto na poltrona de couro. A sala estava vazia, nada de mariposa. Onde estava? A janela da sala continuava fechada. O ruído de um isqueiro a fez se virar num reflexo. Uma senhora elegantemente trajada de preto, sentada na velhíssima poltrona, tragava seu cigarro. Marta arrepiou-se inteira, era a primeira vez que a via fora de seus sonhos. Sabia quem era. Isso a emocionou a ponto de deixar os olhos rasos d’água. A senhora a olhou com benevolência e sorriu. Sua voz era firme e sussurrante:

— Senta, minha filha. Precisamos conversar.



[Continua na terça]
LEÃO NEGRO
A busca pelo vampiro Luar
Um romance de KIZZY YSATIS

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Aqueles que habitam o Paralelo Noturno

IX - Aqueles que se relacionam com o Paralelo Noturno

Vaticano

Na Basílica de São Pedro, um padre encontra-se secretamente com um cardeal.

— Eminência, Balthazar aliou-se a Montserrat — noticiou o padre, sem rodeios. — Rezemos para que o Tratado de Aquitânia não seja quebrado, senhor.

— Rezar ajuda mas não resolve, Maurice. Se não tomarmos uma atitude agora, isso vai se transformar numa bola de neve. Mande chamar a madre vermelha. Quero uma audiência com a Matriarca. A soberana. Fiz-me entender?

— Certamente, senhor.

— Nada de e-mails ou telefonemas, infelizmente temos de obedecer ao protocolo.

— Sim, vossa eminência tem toda a razão, não podemos nos expor. Mandarei uma emissária à França, imediatamente.


[Continua na quinta-feira]
LEÃO NEGRO
A busca pelo vampiro Luar
Um romance de KIZZY YSATIS

domingo, 2 de janeiro de 2011


Estou de volta e a aventura continuará na terça. Te espero aqui. ^^